Ter uma consciência negra (elucubrações)

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João Junior

11/21/20244 min read

Hoje é 20 de novembro de 2024! Um dia histórico no país, pois é a primeira vez que o Dia da Consciência Negra é celebrado como feriado nacional. Portanto, é feriado em todo o país! Note que este feriado foi idealizado em 1971, começou a ser implementado em 2003 e demorou vinte e um anos para finalmente se tornar um feriado nacional. A história desse feriado é uma síntese dos significados profundos do que é ser negro no Brasil.

A diferença entre pessoas negras e pessoas brancas e o modo como a sociedade lida conosco (de modo desigual) é uma marca que, infelizmente, estrutura nossa sociedade desde sua colonização. O Brasil, enquanto nação, já surge tendo a escravidão como uma marca. O empreendimento da escravização das pessoas negras marcou o mundo de uma forma que estamos há séculos tentando solucionar os problemas que ele criou. Para que se sustentasse pelo período em que se sustentou, a escravidão precisou se solidificar no imaginário, no inconsciente e nos valores de nações inteiras. Mesmo após o seu fim "oficial", ainda buscamos ferramentas para reparar os seus danos.

Assim, um feriado como o de hoje terá significados e efeitos diversos sobre os sujeitos. Mesmo as pessoas negras vão assumir o dia de hoje através dos mais diversos prismas e consciências. Não se pode esperar que todas as pessoas negras encarem o dia de hoje da mesma forma, embora todas as pessoas negras e brancas, em alguma medida, tenham uma "consciência negra" ou uma "consciência sobre a negritude".

Ensaio: “Lute com Orgulho”

Há quem negue a desigualdade, há quem viva para fazer dela um suplício pessoal permanente. Há aqueles que trabalham para mantê-la, e há os que lutam para diminuí-la. A desigualdade racial no Brasil é algo palpável, palatável e mensurável. A miséria no Brasil tem cor! A mão desigual dos poderes estatais também tem! As favelas, as prisões, os usuários do sistema de saúde — muitos são os indicadores que mostram que ainda há muito a ser feito. Por outro lado, a quantidade de negros nas universidades (que aumenta a cada ano), a quantidade de negros em postos de chefia e comando (que também aumenta a cada ano) e, até mesmo, a inescapável obrigação que atingiu nossa programação da TV aberta — onde não se admite mais nada que não tenha pessoas negras envolvidas e representadas — são indicadores de avanços, e estes também são palpáveis e palatáveis.

Arquivo pessoal: Na reunião Brasileira de Antropologia / Belo Horizonte, 2024

Eu tenho clareza sobre quando desenvolvi uma madura e perceptível "consciência negra". Veio após eu me assumir e anunciar para o mundo que era um homem gay. Após isso, o contato com a chamada "luta LGBT" foi o que me fez tomar consciência de que também era tratado de modo desigual por ser negro. Tal como na história de Adão e Eva, o conhecimento e a perda da inocência sobre algo têm pontos positivos e negativos. Um dos positivos foi perceber, como já disse em outro texto, que ser negro me permitiu desenvolver certas habilidades e percepções que noto que outras pessoas não têm ou não desenvolvem. Por outro lado, todos os dias preciso fazer uma escolha pessoal sobre o que faço com a informação de que, algumas vezes, o dia será mais difícil para mim do que seria se minha pele tivesse outra tonalidade. Enfrentar o racismo e as pessoas racistas pode parecer heroico na teoria, mas toda pessoa negra sabe que é extremamente exaustivo e cansativo. Como um cientista social negro que lida com esse debate diariamente, posso dizer que nem no campo das Ciências Sociais, onde, em tese, essa discussão deveria ser mais fácil, isso acontece.

Arquivo pessoal: no MET em Nova York

Essa coluna talvez seja parte desse momento histórico em que estamos vivendo. Inicialmente, pensei em escrever uma resenha sobre o novo álbum da cantora Tássia Reis, "Topo da Minha Cabeça", que pode ser conferido AQUI. Nele, temos uma música chamada "Brecha", onde aprendemos:

"Mas sou brecha
Porta não fecha
Minha voz é flecha"

e

"Não se ofenda
Se eu sou fenda
Se arrependa de não reconhecer"

("Brecha": Felipe Pizzutiello/Tássia Reis)

Mas a escrita me levou por outros caminhos e pensamentos.

Paro por aqui e continuaremos essa reflexão mais à frente!

Arquivo pessoal: Dia da defesa da dissertação de mestrado / Rio de Janeiro

Foto: Vinicius Vieira / Modelo: Henri Ébano / Produção João Junior / Ensaio: “Lute com Orgulho”

ISSN 2966-4683

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