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Aqueles olhos verdes
CONTOS ERÓTICOS
Danie Vaz
11/13/20244 min read
Rio de Janeiro, 1952.
Carlos estava atrasado para encontrar Clarisse, sua namorada, na butique da Rua do Ouvidor. Andava apressado, tentando se desvencilhar dos transeuntes. As ruas estavam cheias, pois o Fluminense tinha acabado de vencer o Corinthians na final da Copa Rio. Havia torcedores por todos os lados, e Carlos só pensava no quanto Clarisse falaria no seu ouvido. Ele odiava discussões, mas Clarisse parecia gostar; usava brigas bobas para apimentar a relação.
“Com licença...”, “Por favor, me dê passagem...”, “Desculpe, preciso passar...”. A cada passo, parecia que Carlos participava de uma corrida de obstáculos. Sua pressa era tanta que acabou esbarrando num tricolor que gritava pela rua: “Nenensee!”. Foi um belo esbarrão, e os dois caíram um por cima do outro. O corpo de Carlos ficou por cima do tricolor, e, por uns segundos, seus olhos entraram numa hipnose, onde os olhos verdes de Diego eram como uma bússola.
“Me perdoe!”, dizia Carlos, levantando-se e ajeitando seu terno.
“Não se preocupe, meu amigo. Hoje é dia de festa. Aceita?”, disse Diego, oferecendo uma garrafa de cerveja.
Carlos recusou e seguiu em frente, mas parou e olhou para trás. Algo além do esbarrão havia acontecido ali. Obviamente, com o atraso, Clarisse não parou de falar um minuto. Mas ele não escutou uma palavra; só conseguia pensar naqueles olhos verdes.
Toda semana, de duas a três vezes, Carlos passava pela Rua do Ouvidor na esperança de encontrar Diego. Numa terça-feira ensolarada, na hora do almoço, Carlos sentou-se em um botequim, pediu um petisco, um suco e comprou um jornal de um vendedor que passava pela rua. Um mês e três dias após aquele primeiro encontro, o reencontro finalmente aconteceu. Diego entrou no mesmo botequim e pediu uma cerveja gelada. Do balcão, olhou para Carlos e se aproximou.
“Não nos conhecemos, meu camarada?”
Carlos, nervoso, respondeu: “Sim, sim, nos esbarramos uma vez”.
“Ah, sim! Foi você que me atropelou como um carro desgovernado”, disse Diego, rindo. “Mas não se preocupe, não guardo rancor. Naquele dia, nada me aborreceu, afinal o Fluminense foi campeão. Posso me sentar?”
Carlos viu Diego se sentar e não conseguiu disfarçar o olhar devorador sobre ele. Diego percebeu, mas fez piada da situação:
“Meu amigo, se você fosse mulher, eu diria que está prestes a me pedir em casamento”, riu do próprio chiste.
Carlos então respondeu: “Que... que... isso... é... que brincadeira boba. Ora... eu...”.
Diego completou: “Casamento eu não garanto, mas não dispenso uma lua de mel”.
Carlos ficou sem palavras diante da ousadia. Diego continuou falando em sussurros: “Você acha que não reconheço um olhar de desejo?”.
Carlos rebateu: “Por quem me tomas? Eu tenho namorada, sou macho”.
Diego retrucou: “Somos, meu amigo. Mas nada nos impede de firmarmos melhor essa amizade que se inicia. Podemos ser bons amigos um para o outro, o que acha?”.
Carlos, curioso, perguntou: “Como?”.
Diego então deu o xeque-mate: “Venha comigo até um quarto que alugo aqui perto. Vamos conversar melhor, tomar uma cerveja e, quem sabe, jogar um jogo a dois, o que acha?”.
Carlos, amedrontado, mas muito interessado, aceitou a proposta. Quando chegaram ao tal local, Carlos indagou: “Não vão maldar?”.
Diego respondeu: “Que mal há em dois machões como nós estarem juntos, tomando uma boa cerveja e jogando um biribinha? Além disso, não há ninguém por essas bandas. Estamos praticamente sozinhos aqui, já que neste andar só tem este quarto. Fique tranquilo, meu amigo”.
Carlos entrou no quarto e reparou nos detalhes: cama desarrumada, luz avermelhada, um cheiro de perfume de cabaré, uma cadeira com roupas penduradas... Com certeza, ele não era a primeira pessoa a estar ali. Seria frequentado por mulheres? Homens? Ambos? Muitos? Uma orgia? Na verdade, essas perguntas pouco importavam. Carlos havia esperado por muito tempo para reencontrar os olhos verdes de Diego, e o que ele mais queria era poder tocá-lo como nunca tocou nem mesmo sua namorada, Clarisse.
Diego acendeu um cigarro e ofereceu a Carlos, que recusou. Diego então tirou as roupas da cadeira e pediu para Carlos tirar as calças e se sentar na cadeira. Carlos obedeceu, como sempre fez em toda sua vida, sempre muito solícito. Diego apagou o cigarro, ajoelhou-se, colocou o membro de Carlos para fora, olhou nos olhos dele e disse: “Eu só vou parar quando você me encher de leite”.
Diego chupou Carlos vorazmente. Carlos nunca havia passado por nada parecido. Pouco tempo depois de Diego engolir toda a sua goza, voltou a chupá-lo. Carlos percebeu que Diego fazia isso com paixão, com a mesma euforia de um torcedor fanático de futebol. Após a terceira vez, Carlos avisou que precisava ir. Diego o abraçou e disse: “Foi um imenso prazer recebê-lo, meu amigo. Você está convidado para retornar. Que tal jogarmos novamente na próxima terça-feira?”.
E assim, a terça-feira tornou-se o dia oficial do “jogo” entre Diego e Carlos. Toda terça, Carlos acordava, tomava seu café, se arrumava, visitava sua namorada Clarisse — sempre levando um presente para evitar discussões (mas, mesmo assim, discutiam) —, se despedia e ia até o quarto de Diego. Lá, se despia e alimentava seu amigo com todo o leite que podia oferecer.
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Editor chefe: João BATISTA DA SILVA Junior
Local: Rio de Janeiro
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